quinta-feira, julho 16, 2009

história do mar

Ela é ninfa etérea, de pele clara e cabelo de mel, enrolado como a dança das ondas. Tem na pele a macieza do passar das águas e nas curvas o ondular do mar. Caminha quase pairando e traz consigo um cheiro de doce sal. Emerge das águas escuras e sorri.

Ele é faroleiro rendido, vergastado pelo tempo, derrotado pela solidão, guardião da luz que acalma os marinheiros vadios. De pele dura e vivida traz no rosto as marcas do vento norte e no olhar, o azul do horizonte que fixa, noite após noite, à espera de também ele ver aí a sua luz.

Ela é mar revolto, é força de ondas gigantes, ele é terra firme de esperança iluminada. Dois seres de dois mundos que se tocam, cruzam, mas nunca se misturam ou entranham. Encontram-se à beira do mar nas noites escuras, quando a lua já vai alta demais para denunciar os amantes. Naquela areia há silêncio e entrega, há loucura e paixão, rendição e abandono. Naquela areia ficam os sonhos do mar que deseja a terra e da terra que anseia pelo mar. E ali ficam as marcas de um encontro improvável, quase impossível e que a maré sobe apressada para apagar os seus vestígios.

Aos primeiros raios de sol, ela esgueira-se do seu corpo firme e torna ao mar, navegando para longe, sem um olhar, sem um adeus. Ele ali fica, mais uns instantes, enquanto o cheiro dela ainda o embriaga e só depois aclara a visão, tentando em vão desvendar-lhe o destino. E perante a ausência de evidências ali fica a questionar-se, se a noite foi de entrega real ou de sonhada fantasia. Torna ao seu farol, à sua torre segura e espera por mais uma noite, de olhar fixo no horizonte, à espera de ver ali a sua luz.

1 comentário:

Unknown disse...

Há algo de belo na ilusão da entrega que descreves. Seremos verdadeiramente de alguém que não nós mesmos, nem que seja uma vez na vida? Ou, por outro lado, há que guardar esses momentos, porque são hoje e sempre efémeros?

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F.