segunda-feira, julho 09, 2007

e se o mundo fosse nada? I

Ali não existia nada. Não corria nem uma brisa, não havia um aroma, nada que me prendesse os sentidos. E, no entanto, não conseguia sair. Balbuciava repetidamente que tinha de me por a correr dali. O meu cérebro dizia às pernas para andar, mas elas tinham vontade própria, vontade de permanecer hirtas, imóveis, no meio de todo aquele nada.

Rodeado de uma imensidão de nada, nem podia dizer que era um deserto porque o meu olhar não vislumbrava nem dunas nem areia. Era um enorme vazio, de um branco ofuscante que me feria os olhos. Sem princípio e sem fim.

Quis gritar com toda a força que os meus pulmões permitiam. Ordenei que as palavras me saíssem pela garganta e que se soltassem, desgarradas, que fossem até onde pudessem, que me fizessem doer no peito de tão sonoras. Eu quis, mas novamente o meu corpo ganhava vontade própria e deixava de me obedecer. Permanecia sereno, ignorando as minhas vontades.