quinta-feira, abril 16, 2009

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Poiso o olhar na cama vazia e inspiro profundamente para sentir o teu cheiro entranhado nos lençóis brancos, amarrotados e cansados de amparar a nossa dança. Fecho os olhos e vejo-te ali de novo, numa memória tão vivida que quase sinto o calor da tua pele colada na minha.

Chegaste em silêncio e despido de pudor, movido pelo desejo lascivo que o meu menear de ancas tinha invocado. A respiração pesada, as mãos quentes e o olhar penetrante denunciaram-te ao primeiro instante e assim entraste na minha intimidade. As mãos ansiosas cravaram-se na minha cintura e a tua boca procurou o calor da minha.

Ainda estremeço ao rever o teu gesto de arrebato que me rasgou a blusa na urgência de te afundares no redondo dos meus seios. Percebi ali mesmo que a minha provocação tinha libertado o teu instinto caçador e agora eu era a presa, indefesa e desamparada, como se uma perseguição imensa me tivesse esgotado as forças.

Entreguei-me à fantasia e deixei-te assumir o papel principal, invadiste-me com o teu desejo, encaixando a tua masculinidade na minha suposta inocência. A cada movimento teu correspondia um suspiro meu, de prazer indisfarçável, num crescendo que me enlouquecia e me fazia pedir mais. Já não conseguia ser apenas presa, queria também liderar a caçada e provocar-te até me esgotares de satisfação.

Perdendo a noção de quem éramos, exorcizámos ali todos os nossos medos, todas as frustrações e angústias que aproximaram dois perfeitos estranhos.

Agora que restava apenas o teu cheiro naquela cama, sorri por dentro perante a imensa sensação de liberdade que aquele prazer me tinha trazido. Também tu saíste de sorriso cúmplice no rosto, livre dos demónios e dos fantasmas que te acompanhavam antes.