segunda-feira, outubro 15, 2007

E se o mundo fosse nada? VI

Quando de novo me senti, quando abri os olhos e olhei em meu redor, senti uma espécie de furacão a passar por mim. Como aquele efeito de descida de montanha russa, só que o fim não chegava. Uma descida quase interminável, quase insuportável rasgou-me por dentro. Fechei os olhos, voltei a abrir e não vi nada. NADA! De novo a ânsia do nada. Assistia de camarote a mais um insólito e alheio vazio, oco e fútil. Persisti parado, rodeado pelo meu maior assombro.

Mantive-me, sem nada poder fazer, enquanto o mundo à minha volta se esvanecia. Não havia palavras para descrever o meu pânico e o meu terror. A raiva e a fúria tomavam conta de mim, parecia que me arrancavam as entranhas com as mãos, que me sugavam a vitalidade e a energia. Sem o meu mundo não era nada. Começava a ficar farto desta palavra amaldiçoada… nada.

De novo reuni todas as forças para me mover e desta vez o meu corpo finalmente obedeceu. Primeiro lentamente, passo a passo, depois um movimento de braços, devagar porque continuava a medo. Comecei a andar em frente, olhando à minha volta. Não sentia nada de especial debaixo dos pés. Pisava um chão mas não via qual era. Virei-me de repente e comecei a andar noutra direcção. Ao fundo, continuava sem ver o que quer que fosse. Mudei de direcção mais uma vez e outra e outra vez, sem nunca chegar a lado nenhum, sem nunca perder de vista aquele deserto branco onde me encontrava, mas sentia algo, o movimento e a noção de mim estavam lá.

Devo ter ficado assim horas, caminhando errante, pois comecei a sentir um enorme cansaço. De repente só me deu vontade de morrer, mas nem isso podia, não tinha como. Sentim-me tombar para trás, de tanta exaustão e voltei a chorar, como uma criancinha perdida, órfã sem ter para onde ir. Era incrível como se tornava cada vez mais fácil fraquejar. Como tinha cada vez menos forças para lutar contra isto.

Comecei então a lembrar-me dos Verões passados no campo, a brincar às escondidas por entre o trigo. Uma brisa suave que fazia o campo murmurar, o ondular das searas que mais parecia uma dança ao som do vento. E então, senti uma brisa no rosto. A medo abri os olhos e vi que estava, como antigamente, no meio do trigo. A vento passava a correr ao meu lado e eu assistia, maravilhado. Fiquei assim, quietinho, sossegado para não espantar o sonho, com medo que acabasse a qualquer momento e eu me visse de novo do meio “daquilo”.

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