domingo, outubro 07, 2007

e se o mundo fosse nada? V

O meu coração batia de uma forma descontrolada querendo saltar para fora do peito. O suor escorria-me pela cara a baixo. Tinha nítida sensação de enlouquecer a qualquer momento. Continuei agarrado à porta, com se alguma coisa lá fora quisesse vir atrás de mim. Respirei fundo várias vezes até acalmar. De repente, fez-se um silêncio tal que me pareceu que o mundo à minha volta tinha desaparecido. Um arrepio gelado percorreu-me a espinha enquanto me virava lentamente. Fui erguendo o olhar desde o chão até à parede.

As minhas pernas e braços voltaram a prender-se ao chão, como se uma força qualquer me pressionasse até doer. As forças abandonavam-me, senti o sangue a desaparecer-me das veias. Transparente demais, até para me assustar com o vazio que estava à minha frente. A minha secretária e a estante tinham desaparecido. Aliás o gabinete tinha desaparecido. Eu estava de novo perante o nada e perante um vazio incalculável.

Quis voltar para trás mas percebi que também a porta tinha desaparecido, dando lugar a uma espécie de neblina que me enjoava. Senti tudo a andar à roda e o meu corpo começou a desintegrar-se, misturando-se com aquele nada. Deixei de me ver e de me sentir. Só sabia que ainda ali estava por que ainda pensava. E o cérebro é a última coisa a morrer, por isso, eu sabia que ainda existia.

Durante alguns momentos, que me pareceram tocar a eternidade, foi como se tivesse voltado ao sonho. A única novidade era a névoa que sabia continuar à minha volta. De resto, nem frio nem calor, apenas aquela sensação de que o mundo havia desaparecido e nada existia para além de mim.

O medo começou a evaporar-se, mas foi pior assim. Fui antes tomado pela inexplicável sensação do desespero e do abandono. Por momentos achei que todos os receios da humanidade se tinham concentrado em mim. E quase sem perceber, as lágrimas começaram a escorrer-me pela alma, porque o meu corpo tinha desaparecido.

Sem gritos, nem queixas chorei por dentro até perder a consciência, a única coisa que me restava. Tudo na minha vida acabava. Tudo se resumia a despedidas e finais inesperados. Até eu estava prestes a acabar diante de mim mesmo.

Sem comentários: