As minhas pernas e braços voltaram a prender-se ao chão, como se uma força qualquer me pressionasse até doer. As forças abandonavam-me, senti o sangue a desaparecer-me das veias. Transparente demais, até para me assustar com o vazio que estava à minha frente. A minha secretária e a estante tinham desaparecido. Aliás o gabinete tinha desaparecido. Eu estava de novo perante o nada e perante um vazio incalculável.
Quis voltar para trás mas percebi que também a porta tinha desaparecido, dando lugar a uma espécie de neblina que me enjoava. Senti tudo a andar à roda e o meu corpo começou a desintegrar-se, misturando-se com aquele nada. Deixei de me ver e de me sentir. Só sabia que ainda ali estava por que ainda pensava. E o cérebro é a última coisa a morrer, por isso, eu sabia que ainda existia.
Durante alguns momentos, que me pareceram tocar a eternidade, foi como se tivesse voltado ao sonho. A única novidade era a névoa que sabia continuar à minha volta. De resto, nem frio nem calor, apenas aquela sensação de que o mundo havia desaparecido e nada existia para além de mim.
O medo começou a evaporar-se, mas foi pior assim. Fui antes tomado pela inexplicável sensação do desespero e do abandono. Por momentos achei que todos os receios da humanidade se tinham concentrado em mim. E quase sem perceber, as lágrimas começaram a escorrer-me pela alma, porque o meu corpo tinha desaparecido.
Sem gritos, nem queixas chorei por dentro até perder a consciência, a única coisa que me restava. Tudo na minha vida acabava. Tudo se resumia a despedidas e finais inesperados. Até eu estava prestes a acabar diante de mim mesmo.
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