Fechei a torneira e olhei de relance para a porta do chuveiro. Um duche ia saber-me bem, mas enquanto o esquentador não estivesse arranjado, ia ser difícil ganhar coragem. À noite, quando voltasse, ia tentar consertar aquele pedaço de ferro velho que teimava em avariar todos os Invernos.
Liguei o rádio para saber como estava o trânsito e fui até à cozinha. No frigorífico estava um pacote de leite fora do prazo, uma caixa com o esparguete da semana passada, duas latas de cerveja e mais nada. Fechei a porta num ápice. Todo aquele branco, as prateleiras vazias arrepiaram-me e fizeram-me recordar o sonho esquisito. Bem, o melhor era tomar o pequeno-almoço fora. À noite, quando voltasse, ia até ao supermercado fazer compras e amanhã o frigorífico ias estar cheio de coisas boas e deliciosas a sorrir para mim.
Passava a vida a dizer o mesmo. Quando voltasse, quando tivesse tempo, quando… Mas o tempo nunca era suficiente para tudo aquilo que eu desejava. As horas e os minutos funcionavam, para mim, como uma espécie de teia de aranha e quanto mais voltas eu tentava dar, mais a malha cerrada do tempo se apertava sobre as minhas vontades.
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